terça-feira, 18 de agosto de 2009

A TV que não pega


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, responsável pela implantação do modelo japonês da tevê digital no Brasil
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, responsável pela implantação do modelo japonês da tevê digital no Brasil

Diogo Moyses
De São Paulo

Disponível para quase 100 milhões de brasileiros em mais de vinte das maiores cidades do país, a TV digital aberta definitivamente não decolou. Se nada mudar, tende a não sair do lugar. Um fabricante com quem conversei recentemente estima que apenas 300 mil conversores para acesso ao sinal digital tenham sido vendidos desde dezembro de 2006.

O cálculo exclui os aparelhos televisores com conversores embarcados, comprados geralmente por quem possui TV por assinatura, onde os equipamentos são comercializados pelas próprias operadoras. Os celulares capazes de receber o sinal tornam o número total um pouco maior, mas nem por isso animador.

O fracasso é evidente, ao menos por enquanto.

No varejo paulistano já é comum não encontrar os conversores. Os lojistas, que receberam as primeiras unidades do produto ainda em 2006, contam que a procura nunca foi alta. Nem as campanhas veiculadas pelas emissoras levantaram as vendas. Com o tempo, foram sumindo das prateleiras.

Nos shoppings frequentados pelos mais ricos também não é fácil achar o produto. Quem faz compras por ali geralmente possui TV paga, então não há porque tê-los em estoque.

O melhor termômetro de como anda a coisa, contudo, está nos anúncios das lojas de varejo publicados aos montes nos jornais de domingo. Achar uma oferta do equipamento é missão complexa, praticamente impossível.

Muitos ainda creditam o desinteresse do consumidor à escolha do padrão japonês. Não é o caso. Mas têm razão os que afirmam ser a tecnologia japonesa a mais cara do mercado mundial. Os conversores mais baratos chegaram às lojas custando 800 reais. Não à toa, o governo passou 2007 tentando baixar o preço por meio da redução de impostos e alíquotas de importação de equipamentos.

Os preços realmente caíram. Hoje os conversores custam em torno de 400 reais. Com algum esforço, você pode encontrar os mais simples - sem capacidade de processar imagens em alta definição - por até 200 reais.

Mas, se finalmente ficou acessível entrar para o maravilhoso mundo da TV digital, por que o consumidor ainda julga ter coisa melhor para fazer com seu dinheiro?

A resposta está no modelo de exploração do serviço e no desprezo ao maior potencial que a digitalização possui: a multiplicação do número de programações. Bem conduzida, a transição poderia dar à TV aberta variedade semelhante da TV por assinatura, com qualidade e diversidade ainda maiores (sim, isso é possível!). Por tabela, seduziria os consumidores a aderir à nova tecnologia. Maior quantidade e qualidade na programação, diversidade e pluralidade.

Mas a honestidade intelectual nos induz a uma única conclusão: a televisão digital brasileira, da forma como saiu do forno em 2006, nada mais é do que o espelho da televisão analógica. Um espelho que ainda sai caro! No mar da programação que cruza os céus todos os dias, imperam cultos religiosos, programas de televendas e entretenimento barato. Analógico ou digital, a substância é exatamente a mesma. Inovação e qualidades foram e continuam sendo artigos raros.

Se o conteúdo é o mesmo, ficou a cargo da melhoria de imagem - a chamada "alta definição" - a missão de ser o fetiche capaz de mobilizar o consumidor. Mas, lembremos, não basta comprar um conversor capaz de processar a alta definição: é preciso também um televisor novo em folha, dos caros, coisa em torno de quatro mil reais.

Mais importante que isso é o fato de muita gente ter percebido que uma imagem um pouco melhor pode até ser "bacana", mas não é algo que muda a forma como vemos TV. Nem é capaz de fazer das Lucianas Gimenez, Ratinhos ou Cidades Alertas bons programas.

Fica fácil entender porque o consumidor pouco está ligando para a TV digital. A inércia tornou-se o caminho natural. E olha que brasileiro gosta muito de televisão. Fosse um produto ao menos razoável, as filas das Casas Bahia já estariam dando a volta no quarteirão.

Via Terra

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