Eu tinha um plano para matar o rapaz que havia estuprado minha filha Katie, de apenas 18 anos.
Eu não era alguém extrovertido, falante. Talvez eu me comunicasse melhor através das mãos. Sou mecânico e pensei que podia consertar tudo. Quando a máquina de lavar quebrava, o ar condicionado, o aquecedor, eu os consertava.
Mas eu não conseguia consertar minha filha. Não conseguia juntar seus cacos novamente.
“Quem fez isso?”, minha voz soava como uma placa de metal.
“Só sei o apelido”, minha esposa Julie sussurrou na escuridão daquele início da manhã. “Katie admitiu que foi estuprada há um ano atrás. É tarde demais para dar queixa”. Ela continuou dizendo: “E se não fizermos algo imediatamente acerca de sua anorexia, ela morrerá”.
Após o estupro, Katie começou a vomitar e, secretamente, a não se alimentar. Não soubemos de nada até aquela manhã de dezembro, há dois anos atrás, quando finalmente colamos as peças do quebra-cabeça. Julie não conseguia dormir e começou a ler uma revista. Após ler um artigo sobre estupro, seus instintos de mãe revelaram que esta era a causa do transtorno alimentar de Katie. Ela acordou Katie, que finalmente admitiu a verdade.
Julie então me acordou. Antes do amanhecer eu já sabia que o rapaz era um homem morto. Cresci caçando e tinha um armário repleto de rifles, armas, pistolas e todas as coisas necessárias para a prática. Mesmo que custasse minha vida, este rapaz pagaria pelo que fez à minha filha. Eu deveria ter estado lá para impedir. É isso que os pais fazem. Protegem suas famílias. Minha raiva era vermelha, quente e imediata. Por meses me manteve acordado, pois era o que rondava minha mente: “Faça-o pagar pelo que fez”.
Temos três filhos. Jamie tem 24 anos, Katie em seguida e Thomas tem 14. Mas existe uma ligação especialmente forte entre eu e Katie. Ela ganhou uma bolsa de estudos para a universidade por jogar softball e durante anos eu fui seu técnico. No início de seu segundo ano de faculdade, ela decidiu que não queria mais jogar softball. Queria mudar de escola. Não fazia o menor sentido.
Em julho, Katie veio jantar em casa. Percebemos muitas diferenças.
“O que você está olhando?”, ela disse para Julie. Algo parecia morto em seus olhos. Julie olhava para ela. “Você perdeu peso, filha”.
“Sou seu pai e estou dizendo, você está muito magra”.
“Estou bem. Só tenho estado muito ocupada”. Ela mexeu na comida, dividiu-a em seu prato, como um esquilo separando comida para o inverno.
Pela primeira vez na vida eu não podia consertar algo que estava quebrado. Então sentei no chão de concreto em minha loja e permaneci com os olhos fitos na motocicleta Triumph que eu estava restaurando. As máquinas eram previsíveis.
Meu plano para matá-lo - Após algumas semanas, Julie estava deitada ao meu lado e disse: “Ela está pior. Não quer procurar ajuda ou aconselhamento”. Em minha mente, isto soava como: “Você é o pai dela. Seja homem”.
Permaneci parado, olhando para a parede e observando a sombra vermelha do relógio piscando no escuro. Eu mexia a boca e balbuciava incessantemente. “Se eu soubesse como consertá-la, você não acha que eu o faria?” Afastei-me de Julie e de todos. Acordava, ia para o trabalho, pensava sobre o plano, tentava esquecer, voltava para casa, tentava dormir, sonhava com o plano.
Pensava em dirigir-me até o campus da universidade e usar meu rifle Smith/Wesson. Alguém saberia seu nome verdadeiro. Eu sentaria no estacionamento e aguardaria o tempo necessário até ele aparecer. Então eu me livraria deste pesadelo e Katie voltaria a se alimentar.
Katie voltou para casa para o fim de semana, dois meses após a verdade ter sido revelada. Quando ela entrava em um cômodo, eu saía. Meu coração estava dilacerado em vê-la daquela maneira. Não conversávamos mais. Eu sentia falta de assistir aos jogos do Atlanta Braves com ela. Sentia falta de rir com ela. Eu sentia falta dela.
Meu filho Thomas e eu estávamos sozinhos em minha caminhonete naquela noite, voltando para casa após o jogo de baseball.
“O que está errado com Katie, pai?”, ele perguntou.
“O que você quer dizer, filho?”
“Ela está muito magra”.
“Filho, algo ruim aconteceu com sua irmã na faculdade. Um garoto a machucou. Isto a deixou doente”.
Ele não tentou perguntar mais.
Julie fez uma saborosa refeição no domingo, na tentativa de chamar a atenção de Katie. Sentado à sua frente na mesa de jantar, tentei manter meus olhos na comida. A sensação era de viver em uma casa funerária. Os únicos sons vinham das panelas e do gelo batendo no copo. Eu não agüentava mais aquela situação.
Bati a cadeira na mesa e saí correndo para meu escritório, no andar de baixo da casa. Eu passava muito tempo lá, era meu local para ver os esportes e guardar as armas.
Metodicamente, comecei a limpar a arma que usaria para matar o rapaz.
Então ouvi alguém descer. Era meu filho Thomas: “O que você está fazendo pai?”. Continuei a limpar a arma sem olhar para ele.
“Posso ajudá-lo a limpar?”
Eu permaneci calado.
“Você vai caçar?”
Olhei para ele, seus olhos marrons eram escuros, quase como os meus. Ele parou próximo a mim. Seu cabelo cortado rente à cabeça parecia com o meu. Mantive os olhos no que estava fazendo e me movimentei em círculos. Nossos olhos se encontraram. Os olhos de Thomas estavam marejados. Pensei: “Ele sabe. Amado Deus, meu filho sabe da minha intenção”.
Parei de polir a arma e deixei-a no chão perto da cadeira. “Venha aqui, garoto. Dê um abraço no papai”. Ele me envolveu em seus braços e me deu o abraço mais apertado que já recebi. O amor de Thomas era de alguma maneira muito mais forte do que meu ódio. Seu abraço começou a quebrar os pedaços da minha fúria como um martelo quebra uma parede. Pedaço por pedaço.
“Querido Jesus, o que eu estava pensando? Meu trabalho ainda não terminou. Perdoe-me. Thomas ainda não está criado. Se eu for preso, ele não terá um pai. Deus... me ajude!”
Tranquei o armário das armas e fiz uma escolha: perdoar.
“Deus, preciso me desfazer deste ódio. Isto está me matando”.
Esta decisão começou em minha mente e não partiu de algum sentimento. Enxugando as lágrimas, Thomas e eu voltamos para a sala juntos, abraçados. Estive tão perto do perigo.
A vida de volta - Naquela noite, confessei meu plano a Julie e oramos juntos, ajoelhados ao lado da cama. Mudanças começaram a ocorrer na família. Katie pesava 35kg. Sem alternativas, Julie e eu oramos por ela como nunca. Julie orava em voz alta contra a autodestruição e o engano que pairava sobre Katie. Enquanto ela orava, algo se quebrou dentro de Katie e pela primeira vez ela começou a acreditar em nós. Após a oração, Katie foi conosco ao shopping comprar roupas. Ao olhar no espelho da loja, ela nos disse que naquele momento percebeu que seus braços e pernas pareciam fios de macarrão. Ela viu, realmente viu, suas vértebras marcando a pele.
Como uma infecção saindo de um ferimento, Katie começou a falar sobre os pensamentos destrutivos que tinha. Compartilhou sobre aquela noite horrível na faculdade. Conforme se sentia livre para falar a verdade, começou a ganhar peso. Trazer o segredo à luz a libertou e a vida recomeçou. Nosso médico de família colocou Katie em uma dieta saudável e nos ajudou a monitorar seu progresso. Nossa igreja também caminhou conosco na recuperação de Katie. Compartilhei sobre isto em um café da manhã para os homens, Julie compartilhou na frente de toda a igreja no culto do dia das mães e Katie deu seu testemunho para um grupo de jovens em um retiro. Quanto mais ela falava sobre isto, mais saudável ela se tornava.
Hoje Katie voltou a sorrir. Nesta primavera ela se casará com James Beirne, um jovem admirável que a ama e respeita. Pela graça de Deus, nossa filha está viva novamente.
Mais de dois anos se passaram desde a oração poderosa de Julie e eu ainda estou maravilhado com a resposta de Deus. O único caminho para mim era perdoar e era algo que eu não poderia fazer sozinho. Quando finalmente admiti minha fraqueza, Deus nos resgatou com seu infalível poder.
A família Garmon reside em Monroe, Geórgia (EUA).
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