A Igreja pós-moderna não pode perder sua identidade, sua clareza e suas definições doutrinárias, que segundo o apóstolo Paulo, é a coluna e sustentáculo da verdade.
Todo o empreendimento humano, com o passar do tempo, tende a inverter a ordem dos fatores fins e meios, ou seja, a transformar os meios em fins e os fins em meios para alcançá-los. Para uma igreja cristã, essa inversão significa a morte da esperança, o esgotamento final do poder.
Isso tem me incomodado, algumas perguntas que não saem da minha cabeça: “Que espera da Igreja o mundo?”, “O que torna a Igreja relevante no mundo?” ou “Qual é a verdadeira natureza da Igreja?”
A Igreja é um organismo vivo, regido por princípios imutáveis, mas em constante movimento através da história. Os princípios que dão alicerce à teologia da Igreja são imutáveis, mas a sua prática deve acompanhar a evolução cultural da sociedade, evolução da qual a própria Igreja é parte, agente e impulsionadora, ou conforme define Werner Kaschel: “a verdadeira sabedoria consiste em manter equilíbrio entre a fidelidade aos princípios do Novo Testamento e a adaptação aos tempos em mutação”.
Portanto, a Igreja não pode ser uma instituição formal ou uma organização sem meios e fins definido, acredito que ser Igreja é ser uma comunidade (qahal / ekklesia) que possa ser:
1. O Corpo de Cristo (somatos tou Kristou – Efésios 4.12). Onde Cristo seja o kefalé (cabeça), um corpo não pode ter duas cabeças, uma cabeça não pode ter dois corpos. Tem que haver unidade, unidade em Cristo;
2. Povo Peculiar (eauto laon periousion – Tito 2.14 à Qahal de JHVH). Somos o seu povo por iniciativa do próprio Deus, não pelas nossas;
3. Rebanho de Deus (poimmion tou Theou – 1ª Pedro 5.2) – Somos o rebanho de Deus e para Ele. Deus nos comprou com o mais elevado preço, Cristo morreu na cruz por nós.
4. Casa, edifício (oikdome – 1ª Coríntios 6.19). Conforme Efésios 2.21-22 nos diz: “o edifício inteiro cresce continuamente e conjuntamente para(ser)templo santo”. Não é a Igreja que se edifica, que se constrói a si mesma, mas ela é edificada. Cada um dos seus membros se une aos demais através do traço forte do amor. É como se fosse uma construção; as paredes crescem conjuntamente, cada tijolo segura os outros e pelos outros se firma através da liga de cimento e areia, assim deve ser a Igreja.
5. Coluna (pilar) e firmeza (baluarte, no latim firmamentum) da verdade (stilos kai edraioma tes aletheias – 1ª Timóteo 3.15). A igreja não é a verdade, mas o que sustenta a verdade. Jesus encarna a verdade eterna em seu próprio ser. Ele não somente conhece a verdade, fala a verdade, ensina a verdade, mas ele é a própria verdade na absoluta acepção do seu ser divino-humano. A igreja é à base de sustentação da Verdade de Cristo no mundo. Seja o que for, até onde for, a Igreja, no entender de Paulo, é a coluna, o pilar, o baluarte da eterna verdade de Deus que se revela, que se corporifica em Jesus (1ª João 1.1-2).
6. Lampadários, castiçais (luxniai – Ap 1.20). A igreja não é a luz, mas o castiçal, a lâmpada na qual brilha a luz que é Cristo.
7. Família da fé (Óikeious – Gálatas 6.10). Refere-se aos indivíduos que, reunidos, formam a família espiritual, os seus componentes individuais unidos em só um corpo pela fé, em perfeita identidade espiritual.
8. Israel de Deus (Israel tou Theou – Gálatas 6.16). A Igreja é Israel tanto quanto Jesus é Jeová (conforme João 8.24, 28 e 58). O compromisso de Deus para a redenção do mundo passa pela Igreja como exclusivo canal (Efésios 2.10).
9. Noiva (nynfe – Apocalipse 22.17). Mais uma vez, o Novo Testamento repete uma imagem do Velho Testamento. Como Israel é a esposa de JHVH (Oséias 2.19), devendo-lhe absoluta fidelidade, a Igreja é a noiva de Cristo (Apocalipse 19.9; 21.2), devendo-lhe exclusivo amor.
A minha oração para este tempo que me cabe viver é que a Igreja seja, não a Igreja que o mundo quer, não a Igreja que a própria Igreja quer, mas a Igreja que Cristo quer, a Igreja com a qual ele sonhou para um tal tempo como este.
Nele, que é a verdadeira razão de sermos Igreja.
Soli Deo Glória
Tiago Nogueira de Souza
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