O sexo forçado com as mulheres dos inimigos vencidos figura na história de todas as guerras, desde a Antiguidade, como parte do butim dos conquistadores. Na ocupação da Alemanha pelas forças soviéticas, essa prática – agora se sabe – atingiu dimensões de pura selvageria. “Nossos soldados violaram todas as alemães que acharam em seu caminho, dos 8 aos 80 anos”, relatou a jornalista russa aposentada Natalya Gesse, que acompanhou a ofensiva como correspondente de guerra. “Eram um exército de estupradores.” Berlinenses idosos, entrevistados pelo autor, ainda se lembram dos gritos das vítimas noite adentro. Era impossível não ouvi-los, pois todas as janelas da cidade estavam quebradas. Num convento nos arredores de Berlim, a fúria sexual dos soldados não poupou ninguém. Foram violentadas freiras, meninas pequenas, mulheres grávidas e até mesmo mães que tinham acabado de dar à luz. Igual destino tiveram as russas, judias e polonesas libertadas do trabalho escravo na Alemanha nazista. Beevor deixa claro que nem todas as unidades soviéticas participaram dos abusos. Houve tentativas de manter a disciplina, como a de um general que matou um tenente ao vê-lo organizar uma fila de soldados para se servirem de uma alemã deitada no chão. Mas, como regra geral, a barbárie correu solta, estimulada pelo álcool e pelo desejo de vingar os horrores praticados pelos nazistas na URSS, onde deixaram mais de 20 milhões de mortos. As notícias da orgia de estupros na Alemanha ocupada chegaram até o ditador Josef Stalin, que preferiu se omitir. “O Exército Vermelho convenceu a si mesmo de que, por ter assumido a missão moral de libertar a Europa do fascismo, poderia fazer tudo o que quisesse, tanto no campo político quanto no pessoal”, analisa o autor.
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